
Posted by Lorena Comparato
Os dias têm sido intensos e são infinitas as histórias que cada um de nós poderia contar a respeito dos momentos vividos aqui, ontem mesmo fomos esquiar e eu poderia escrever um verdadeiro romance relatando um dos meus tombos (estou bem mãe, não precisa se preocupar... nada que uma plástica não resolva!); outra coisa que daria um ótimo post é que aqui é o paraíso dos carecas, como faz um frio razoável você anda com a cabeça coberta e ninguém desconfia que o real propósito é esconder a calvície. Entretanto, eu gostaria de utilizar esse post pra fazer algumas considerações mais pessoais sobre o último mês, já que se aproxima o momento de deixar Knoxville rumo à Nova Iorque e a Washington.
Ainda em João Pessoa (minha cidade) tentei me preparar um pouco para os dias aqui nos Estados Unidos: praticar mais o inglês, aproveitar o carnaval com antecedência, adiantar algumas coisas da universidade (sou aluno da UEPB), ir à praia, descobrir como se coloca um cachecol, estudar um pouco a cultura daqui, etc... É verdade que chegando em Knoxville não estava preparado para um série de outras surpresas: descargas no banheiro que funcionam com sensor, torneiras que abrem das maneiras mais esquisitas possíveis, camas que precisam de mapas pra você não se perder na hora de dormir, semáforos que ficam verdes pra carros e pedestres ao mesmo tempo, passar protetor solar quando está fazendo -5º Celsius, feijão doce e por aí vai. No entanto, eu definitivamente não estava preparado pra vivenciar algo extremamente marcante para mim: fazer amigos.
Eu pensava em vir para cá e entrar em contato com os “Estados Unidos”, mas realmente não tinha percebido que isso significaria essencialmente “pessoas”. Não foram a “cultura”, a “religião” ou a “política” que abriram suas casas, dividiram seus hábitos, ofereceram carona, sugeriram refeições e lugares, enfim, explicaram melhor o que significa cada coisa por aqui. E mesmo depois de tão pouco tempo posso afirmar consistentemente que fiz verdadeiras amizades que marcarão para sempre a minha vida. Jogamos futebol juntos (football e soccer), me deixaram subir no palco e comandar uma festa de carnaval com música brasileira (aprenderam a dançar chiclete com banana e banda eva, e ainda quase brigaram pra conseguir um abadá de micareta), aprendi a jogar Aplles to Aplles e Beer Pong, fomos juntos as festas, jogamos boliche e videogame (que fique bem claro que não perdi para nenhum estadunidense no futebol), rimos juntos, enfim, compartilhamos momentos muito especiais. Dentro de dois dias estaremos deixando não só a cidade de Knoxville, mas principalmente nossos amigos. Hoje já derramei as primeiras lágrimas e tenho muita sorte em ter conseguido tornar “tchau” um palavra tão difícil de dizer; se quem faz um amigo recebe um tesouro, tenho certeza absoluta de que volto para o Brasil com excesso de peso na bagagem.
Host Family
Festa de Carnaval com música brasileira
Partida de futebol americano
Aproveito a oportunidade pra mandar um salve pra todos os meus amigos, os exilados, a unidade, pessoal da UEPB, painho, mainha, Thaís, Lana, minha família, os vizinhos e pessoas que jamais lerão esse post. Desculpa não ter mandado tantas noticías antes, mas eu tava meio ocupado tentando aproveitar o máximo aqui. Darei notícias, não se preocupem! ;)
“There is no doubt that Brazil is changing. It is letting down the cycle of debt, inflation and inequality and achieving a sustainable growth pattern”
Boa noite a todos! Como o tema da aula do professor Javier Corales me interessou bastante, resolvi dar minha pequena contribuição a esta amálgama de perspectivas. Durante a aula de hoje, na qual discutimos as relações políticas Brasil-EUA, o prof. Corales apresentou uma hipótese, no mínimo, provocativa. Estariam os EUA “delegando” o papel de líder da América do Sul ao Brasil?
Para responder a pergunta, o professor fez uma analogia entre as circunstâncias que estavam presentes na relação Inglaterra-EUA, no início do século XX, e as circunstâncias que, segundo ele, estariam presentes no atual jogo político Washington-Brasília.
Para o professor da universidade de Amherst, assim como a América do Norte, no início do século XX, deixava gradualmente de figurar entre o topo das prioridades britânicas, a América do Sul vinha perdendo, atualmente, importância (relativa) para os EUA. No entanto, a afirmação do professor Corales não foi feita ao léu (péssimo trocadilho, eu sei). Pelo contrário, idéias coerentes lhe deram sustentação.
Se, por um lado, a Inglaterra, à época, via o crescimento da Alemanha como uma ameaça ao império britânico e a própria estabilidade intraeuropéia, os EUA veem a ascensão da China e as guerras do Iraque e do Afeganistão como fatores de risco para a manutenção de sua liderança internacional. Desta forma, uma possível estratégia a ser utilizada pelos EUA, no que tange a América do Sul, seria o “dividir para dominar”
Esta estratégia pode ser entendida como a delegação, à “terrae brasilis”, do papel de mediador entre os governos com tendências esquerdizantes, de um lado, e a terra do Tio Sam, de outro. Destarte, para o professor Corales, esta estratégia renderia pouposos frutos para o Brasil que poderia aproveitar sua influência regional tanto em termos políticos como em econômicos.
No entanto, o relacionamento entre dois países continentais nunca seria tão simples assim. Como o próprio Corales apontou, podemos observar que alguns tópicos polêmicos tornam as negociações mais difíceis. Entre eles podemos citar, por exemplo, os interesses conflitantes entre os dois países quando se trata da questão agrícola (que foi, aliás, um dos motivos para o fracasso de Doha em 2001)
Enquanto, nos EUA, há um forte lobby do setor agrícola pela manutenção dos subsídios e pela alta taxação dos produtos agrícolas brasileiros (que são muito mais competitivos), no Brasil, o interesse é aumentar as exportações para o grande mercado consumidor norte-americano.Contudo, os encontros realizados entre Bush e Lula em 2007, parecem dar o tom da mudança em antigos litígios vivenciados pelos dois países.
O” Memorandum of Understanding Between the United States and Brazil to Advance Cooperation on Biofuels” figura como demonstração de que os EUA estão prontos para cooperar ao menos em matéria energética. Ora, através desta cooperação EUA e Brasil passariam de rivais a parceiros em uma área cuja importância vem crescendo enormemente. Seria este aceno para a cooperação, em um terreno arenoso, enfim o reconhecimento da importância do Brasil para a política externa norte-americana?
O fato é que não precisamos esperar o reconhecimento dos vizinhos do Norte para almejar voos maiores (e esta é minha ressalva a hipótese do professor Corales). Seja através de uma maior cooperação com os EUA ou através da diversificação de nossas relações externas, como foi feito durante o período da política externa independente e do pragmatismo responsável, o Brasil cresce em importância política, econômica e estratégica, o que aumenta nosso poder de barganha com outras potências.
Neste cenário, a delegação de parte de competências para o Brasil, no exercício da liderança na AS, se torna mais uma necessidade (para os EUA) do que uma opção. Afinal, com tantos problemas prioritários a enfrentar, o governo norte-americano só poderia estar cometendo um erro de cálculo, em termos de política externa, ao entrar em conflito direto com um dos maiores players da região.
Bom, fico por aqui. A aula que teremos amanhã às 09:00 não me permitirá explorar mais o interessante tema trazido pelo professor Corales.
Boa noite novamente,
Leonardo Correia
Me: We do not have to agree on everything. I believe that it is very enriching when we exchange different points of view, don’t you think?
Professor: No.
E esse foi o final de nossa aula de ontem. Bem assim, da forma como está. Bastou tocar no assunto guerra. O professor expôs seu ponto de vista, declarando-se a favor do casus belli americano no Iraque. Eu aguardei em silêncio para expor o meu, e em seguida também meus amigos. Pontos de vista diferentes. Idéias devem brigar, pessoas não.Bem, eu acredito piamente que cada um de nós , ao vir para cá, teve de deixar suas armaduras de lado e manter a mente aberta para o que não é espelho. Só assim você é capaz de impedir que os estereótipos te ceguem para a experiência empírica. Não creio que intolerantes passariam pelo pente fino da Vera.
Discordamos, sim. Eu nunca fui a favor da guerra do Iraque. Nunca fui a favor de decisões unilaterais quando um país decide se submeter por vontade própria a um Tratado que preve^ multilateralidade. Pacta sunt servanta: O pacto deve ser cumprido. E também não creio que valha tudo em nome da democracia. Ainda mais quando se é amigo da totalitária Arábia Saudita.Ora, discordamos, sim. E eu sempre achei que "discordar" fosse um jogo de soma positiva. Foi assim com todos os professores com os quais tivemos o prazer de discutir até ontem. Se os discordantes forem espertos, a troca de opiniões é sempre boa. E nós somos líderes curiosos. Se você tiver uma opinião diferente da minha, eu quero saber qual é. Quando é que no Brasil eu vou ouvir a opinião de um americano autêntico que apóia a guerra? Não é algo que se vê todo dia, o leitor há de convir.
Mas ontem, ter uma opinião diferente revelou-se para o professor como uma ofensa pessoal. Ficamos nos perguntando se seria realmente adequado, frente a alunos que representam as melhores universidades do Brasil, que o professor usasse termos como “países do mal”, ou classificações como “iranianos psicopatas, racistas e fascistas”. Eu esperava argumentos mais adequados para o meio acadêmico no qual nos encontrávamos. Esperava uma opinião baseada em fatos, não em juízos de valor. Mas isso não me impediria de respeitar o que ele tinha a dizer.
Certa vez, Clausewitz disse: “a guerra é a continuação da política por outros meios”. Bem, eu não concordo muito com Clausewitz. Para mim, por onde a política cessa, lá as guerras começam. E guerra é guerra. Não é a continuação de nada. É sim, o fim de muita coisa. É a derrota da diplomacia. É o fim do diálogo.
Que Marx me desculpe, mas eu não creio que sejam somente as questões econômicas que rejam o mundo. Que Marx me perdoe, mas o que importa para mim é o ser humano. E cada baixa de qualquer guerra é uma perda humana irreparável. Cada singular baixa é inegociável. Não há mercado que substitua. Não há dólares que paguem. Vão-se os dedos e ficam os anéis nessa guerra.No auge dos meus vinte e poucos anos, não posso me permitir achar que tudo se resuma a um pedaço de papel. Não posso acreditar que tudo sejam cifras. Há muito mais que isso. O ser humano é um mosaico fluído de possibilidades. Recuso-me a viver em um mundo de guerra de todos contra todos.
(Erica Ramminger)
Bom, como nos student leaders tem gente de tudo quanto é canto e de tudo quanto é curso, achei que como sou aluna de música, seria legal dar meus relatos musicais sobre o que tem acontecido no programa até agora.
Na minha primeira visita ao departamento de música, a única coisa que eu conseguia pensar era: ‘Meu Deus. Que prédio gigante.’ No Brasil, os alunos de música sofrem com o mal do ‘serem jogados de lado’, em qualquer prédio que aparecer pela frente. Na UnB, nosso prédio chama SG. Porque antes de virar prédio da música, era o depósito dos Serviços Gerais. Ou seja, não temos uma estrutura lá muito voltada para a música, e nosso maior problema é a falta de lugar pra estudar (a árvore da praça acaba sendo o lugar mais disputado). Logo que cheguei no prédio da música da UT, me disseram que metade do prédio era apenas de salas para estudo. Na hora pensei: ‘Uau, meu sonho.’
Foi então que perambulando pelo prédio, encontrei a sala de ensaio da banda, e por sorte a banda estava ensaiando. Fiquei no canto assistindo, e pensando novamente: ‘Meu Deus. Que banda grande’. Ao final do ensaio, tive um bate-papo interessante com os alunos de clarineta (que aliás, é o meu instrumento) e descobri algumas coisas muito interessantes. O prédio, que era o prédio dos meus sonhos, está para ser demolido porque está velho. Na hora quase disse: ‘Quer doar pra UnB não??’. Descobri também que muito dos músicos da banda não são alunos do curso de música. Muitas pessoas saíram do ensino médio tocando algum instrumento, não quiseram fazer o curso de música, mas a UT oferece a banda, que é uma chance deles não pararem de tocar. Adorei isso. Os alunos foram todos muito, muito receptivos comigo e logo me levaram para conhecer o professor de clarineta, que foi muito atencioso também e me convidou para ensaiar com o coro de clarinetas na outra semana.
Durante a semana, antes de chegar o ensaio do coral de clarinetas, fiz bom uso das salas de estudo (logo descobri que elas são o lugar mais quente de Knoxville), que são abertas a toda hora (inclusive de madrugada!), e participei também de alguns ensaios da banda. Outra idéia genial que vi por aqui é a tática anti-furto de estantes de música (que também são meio que inexistentes na UnB depois de serem roubadas toda hora). Elas são amarradas por um cabo de aço na parede da sala de estudo. Quero ver alguém roubar.
Chegando no ensaio do coro, a primeira coisa que notei foi a quantidade de gente que toca clarineta aqui. A UT tem 21 alunos de clarineta. A UnB tem 6. E depois ainda fui informada que o departamento de música da UT não é considerado grande. Achei legal também que a UT compra muitos instrumentos caros (clarinetas baixo, clarinetas contrabaixo. Nunca tinha visto uma clarineta contrabaixo ao vivo.) que chegam a custar 15,000 dólares e deixam eles disponíveis para os alunos usarem. Esses instrumentos são bem raros (e caros), mas são super importantes para que o coral de clarinetas e a banda fiquem completos.
Meu balanço musical da UT é bem positivo até agora. A cultura musical daqui é bem diferente da brasileira, o acesso a música erudita é muito mais fácil (por meio das bandas de colégio de ensino médio) e o apoio e incentivo a música é muito diferente também. O Brasil e os Estados são muitos diferentes, mas uma coisa é certa. Mesmo com todas as dificuldades que existem para ser músico no Brasil, a gente nunca deixa isso interferir na nossa formação. E posso afirmar que com certeza, os músicos brasileiros, comparados com os americanos não deixam a desejar no quesito qualidade musical.
Na foto, coral de clarinetas da UT.
E isso aí. Saudações musicais!
Laura B.
Amanda: "Então vocês fazem essa festa toda só para fazer festa, para comemorar?".
Ana: "É, sim".
Esse ‘diálogo’ apareceu entre umas e outras conversas que tivemos com a Amanda e a Rogina, com quem eu e Thaís (DF) passamos o final de semana do homestay.
Fomos a Rock Island (sim, essa cidade existe, Dr. Mosses, e fica a caminho de Nashville). Minha primeira impressão ao chegar àquela "casa" de cerca de dez (10) quartos foi de ter compreendido, num piscar de olhos, o gérmen da crise econômica de 2008-2009...
Talvez o homestay teria como objetivo conhecermos melhor sobre o modo de vida de uma família estadunidense. No entanto, a árvore genealógica da nossa hostfamily partia com um pé do Egito, pelo lado materno, e outro half-coreano e half-alemão, pelo (não podia ser diferente) paterno.
Dessa mistura, surge a reação do Andrew (irmão da Amanda) ao eu lhe falar que tinha mais traços egípcios que as meninas foi a de lamentar-se dizendo que desejava parecer-se mais com um "americano". Eu lhe respondi: "Há! But you are American"!
Ele calou-se. Sua concepção de “americano” com certeza era uma (fixa); aquela que (talvez) muito conhecemos através das produções da sétima arte (e do que eu não chamaria tanto de arte, como um Super Size Me).
A questão que me coloquei, à hora, foi: ‘O que é ser estadunidense ("americano")?’
E, pois que Dr. Diacon, na aula de ontem, complementa: e ‘O que é ser brasileiro?’.
O resultado do nosso breve debate em grupo foi um tanto simples (ou um tanto complicado): descobrimos que, sobre On Being Brazilian, somos de todos os tipos: tipos de raças (miscigenadas!), tipos de crenças, de formas, de gostos, de sabores, de amores (assim diriam alguns emepebistas). Somos de tudo. Mas não sabemos definir objetivamente (e por que a necessidade de uma definição objetiva?) o que, então, é ser brasileiro.
O documentário do Discovery Channel (entre umas alfinetadas e outras) fecha as cortinas do seu palco afirmando que “The American dream is to transform yourself into whatever you want. The Brazilians share that dream, but for them the transformation is often fleeting. One moment of perfection counts for more than a lifetime of quite good. In sport, in art, in business, in life they live for the moment.”. Ou seja, nossa transformação é transitória, momentânea, mas o é tal que comemoramos cada degrau que subimos, seja qual for o caminho a que essa escada levará.
Nisso, enfim, concordamos. Ah! Se concordamos! É tal que concordamos que a comemoração do Carnaval, essa festa por festa, ‘Amanda’, embora realizada das mais diferentes formas (seja com desfile, como samba, axé, praia ou chimarrão), é a nossa maneira de viver. Onde o pobre vira rei e o rico desce a ladeira como folião. Desce, sobe.
E quanto à primeira pergunta?
Seguimos levando a vida aqui no Tennessee buscando descobrir o que é ser estadunidense.
Porque brasileiro acredito que já descobrimos. É ser. SER. Somos brasileiros. Somos.
PS.: Uma foto com a nossa host Amanda na ida às Twin Falls, TN.