terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Liderança brasileira na América do Sul, opção ou necessidade?








“There is no doubt that Brazil is changing. It is letting down the cycle of debt, inflation and inequality and achieving a sustainable growth pattern”


Boa noite a todos! Como o tema da aula do professor Javier Corales me interessou bastante, resolvi dar minha pequena contribuição a esta amálgama de perspectivas. Durante a aula de hoje, na qual discutimos as relações políticas Brasil-EUA, o prof. Corales apresentou uma hipótese, no mínimo, provocativa. Estariam os EUA “delegando” o papel de líder da América do Sul ao Brasil?

Para responder a pergunta, o professor fez uma analogia entre as circunstâncias que estavam presentes na relação Inglaterra-EUA, no início do século XX, e as circunstâncias que, segundo ele, estariam presentes no atual jogo político Washington-Brasília.

Para o professor da universidade de Amherst, assim como a América do Norte, no início do século XX, deixava gradualmente de figurar entre o topo das prioridades britânicas, a América do Sul vinha perdendo, atualmente, importância (relativa) para os EUA. No entanto, a afirmação do professor Corales não foi feita ao léu (péssimo trocadilho, eu sei). Pelo contrário, idéias coerentes lhe deram sustentação.

Se, por um lado, a Inglaterra, à época, via o crescimento da Alemanha como uma ameaça ao império britânico e a própria estabilidade intraeuropéia, os EUA veem a ascensão da China e as guerras do Iraque e do Afeganistão como fatores de risco para a manutenção de sua liderança internacional. Desta forma, uma possível estratégia a ser utilizada pelos EUA, no que tange a América do Sul, seria o “dividir para dominar”

Esta estratégia pode ser entendida como a delegação, à “terrae brasilis”, do papel de mediador entre os governos com tendências esquerdizantes, de um lado, e a terra do Tio Sam, de outro. Destarte, para o professor Corales, esta estratégia renderia pouposos frutos para o Brasil que poderia aproveitar sua influência regional tanto em termos políticos como em econômicos.

No entanto, o relacionamento entre dois países continentais nunca seria tão simples assim. Como o próprio Corales apontou, podemos observar que alguns tópicos polêmicos tornam as negociações mais difíceis. Entre eles podemos citar, por exemplo, os interesses conflitantes entre os dois países quando se trata da questão agrícola (que foi, aliás, um dos motivos para o fracasso de Doha em 2001)

Enquanto, nos EUA, há um forte lobby do setor agrícola pela manutenção dos subsídios e pela alta taxação dos produtos agrícolas brasileiros (que são muito mais competitivos), no Brasil, o interesse é aumentar as exportações para o grande mercado consumidor norte-americano.Contudo, os encontros realizados entre Bush e Lula em 2007, parecem dar o tom da mudança em antigos litígios vivenciados pelos dois países.

O” Memorandum of Understanding Between the United States and Brazil to Advance Cooperation on Biofuels” figura como demonstração de que os EUA estão prontos para cooperar ao menos em matéria energética. Ora, através desta cooperação EUA e Brasil passariam de rivais a parceiros em uma área cuja importância vem crescendo enormemente. Seria este aceno para a cooperação, em um terreno arenoso, enfim o reconhecimento da importância do Brasil para a política externa norte-americana?

O fato é que não precisamos esperar o reconhecimento dos vizinhos do Norte para almejar voos maiores (e esta é minha ressalva a hipótese do professor Corales). Seja através de uma maior cooperação com os EUA ou através da diversificação de nossas relações externas, como foi feito durante o período da política externa independente e do pragmatismo responsável, o Brasil cresce em importância política, econômica e estratégica, o que aumenta nosso poder de barganha com outras potências.

Neste cenário, a delegação de parte de competências para o Brasil, no exercício da liderança na AS, se torna mais uma necessidade (para os EUA) do que uma opção. Afinal, com tantos problemas prioritários a enfrentar, o governo norte-americano só poderia estar cometendo um erro de cálculo, em termos de política externa, ao entrar em conflito direto com um dos maiores players da região.

Bom, fico por aqui. A aula que teremos amanhã às 09:00 não me permitirá explorar mais o interessante tema trazido pelo professor Corales.

Boa noite novamente,

Leonardo Correia

2 comentários:

  1. Leo, excelente! Muito lúcida e pertinente a sua colocação! Bj

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  2. texto muito bom mesmo. O Corales causou muita polêmica no nosso grupo, com relação a muitos temas. Mas especificamente com relação a esta hipótese, acho que faltou uma consideração mais adequada dos objetivos do Brasil nesta relação. Ainda que os EUA queiram "delegar" uma liderança regional, o Brasil tem, hoje, ambições globais, por vezes conflitantes com os EUA. Sem entendimento das questões globais - para além simplesmente de temas comerciais ou especificamente agrícolas - acho que a força explicativa da teoria perde um pouco.

    Abraço Léo e demais!!

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