quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Contato




Me: We do not have to agree on everything. I believe that it is very enriching when we exchange different points of view, don’t you think?
Professor: No.



E esse foi o final de nossa aula de ontem. Bem assim, da forma como está. Bastou tocar no assunto guerra. O professor expôs seu ponto de vista, declarando-se a favor do casus belli americano no Iraque. Eu aguardei em silêncio para expor o meu, e em seguida também meus amigos. Pontos de vista diferentes. Idéias devem brigar, pessoas não.

Bem, eu acredito piamente que cada um de nós , ao vir para cá, teve de deixar suas armaduras de lado e manter a mente aberta para o que não é espelho. Só assim você é capaz de impedir que os estereótipos te ceguem para a experiência empírica. Não creio que intolerantes passariam pelo pente fino da Vera.
Discordamos, sim. Eu nunca fui a favor da guerra do Iraque. Nunca fui a favor de decisões unilaterais quando um país decide se submeter por vontade própria a um Tratado que preve^ multilateralidade. Pacta sunt servanta: O pacto deve ser cumprido. E também não creio que valha tudo em nome da democracia. Ainda mais quando se é amigo da totalitária Arábia Saudita.

Ora, discordamos, sim. E eu sempre achei que "discordar" fosse um jogo de soma positiva. Foi assim com todos os professores com os quais tivemos o prazer de discutir até ontem. Se os discordantes forem espertos, a troca de opiniões é sempre boa. E nós somos líderes curiosos. Se você tiver uma opinião diferente da minha, eu quero saber qual é. Quando é que no Brasil eu vou ouvir a opinião de um americano autêntico que apóia a guerra? Não é algo que se vê todo dia, o leitor há de convir.

Mas ontem, ter uma opinião diferente revelou-se para o professor como uma ofensa pessoal. Ficamos nos perguntando se seria realmente adequado, frente a alunos que representam as melhores universidades do Brasil, que o professor usasse termos como “países do mal”, ou classificações como “iranianos psicopatas, racistas e fascistas”. Eu esperava argumentos mais adequados para o meio acadêmico no qual nos encontrávamos. Esperava uma opinião baseada em fatos, não em juízos de valor. Mas isso não me impediria de respeitar o que ele tinha a dizer.

Certa vez, Clausewitz disse: “a guerra é a continuação da política por outros meios”. Bem, eu não concordo muito com Clausewitz. Para mim, por onde a política cessa, lá as guerras começam. E guerra é guerra. Não é a continuação de nada. É sim, o fim de muita coisa. É a derrota da diplomacia. É o fim do diálogo.
Que Marx me desculpe, mas eu não creio que sejam somente as questões econômicas que rejam o mundo. Que Marx me perdoe, mas o que importa para mim é o ser humano. E cada baixa de qualquer guerra é uma perda humana irreparável. Cada singular baixa é inegociável. Não há mercado que substitua. Não há dólares que paguem. Vão-se os dedos e ficam os anéis nessa guerra.

No auge dos meus vinte e poucos anos, não posso me permitir achar que tudo se resuma a um pedaço de papel. Não posso acreditar que tudo sejam cifras. Há muito mais que isso. O ser humano é um mosaico fluído de possibilidades. Recuso-me a viver em um mundo de guerra de todos contra todos.

(Erica Ramminger)


2 comentários:

  1. Erica, estou estupefata!!! Vocês fizeram muito bem em expor suas idéias, e é por isso que no final das contas todos chegam a um acrodo, não é? Bom, como conversamos antes, o ser humano é muito, muito, MUITO complexo!

    You make me proud!

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  2. nossa, me assusta um pouco isso. por sorte, nao tivemos situações assim, mesmo diante das maiores discordâncias. Aliás, acho que nós eramos mais "inflexíveis" como grupo do que nossos professores. Que triste isso. Acho que é uma questão de responsabilidade política, em um país como os eua, haver diálogo.

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