sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

How long?

Por Suzana Petropouleas (SP)

Há alguns meses, enquanto eu lia os arquivos desse blog, a experiência de ser uma Student Leader parecia distante, intangível. Um sonho, uma fantasia  – talvez, com um pouco de sorte e muita dedicação, uma possibilidade. E agora, só alguns meses depois,  aqui estou eu, na bonita e pitoresca Knoxville, escrevendo no blog que eu tanto li, sobre a experiência que eu tanto quis viver.

Hoje, nós tivemos a oportunidade de ter uma aula sensacional sobre o Movimento dos Direitos Civis com a Dra. Fleming, uma mulher muito elegante e bem articulada, PhD no assunto pela Duke University. Além de traçar um panorama histórico muito completo sobre a segregação racial nos EUA e o Movimento em si, ela também compartilhou conosco histórias muito pessoais sobre sua juventude como mulher e negra crescendo nos Eua durante o Movimento dos Direitos Civis e do Black Power. Ela viveu a história. Viveu  a opressão, a diferenciação imposta pela segregação e toda a dor que esta trouxe, quando a equidade social entre negros e brancos nos Eua era ainda apenas um sonho, uma fantasia – quem sabe, uma possibilidade...

Dra. Fleming comentou conosco sobre seus discursos preferidos de Martin Luther King. Semana passada, em nossa visita a Atlanta, pudemos ver um trecho de um desses discursos sendo exibido num  telão lá. Pra mim, foi emocionante. Eu  gosto de palavras. Palavras estranhas. Palavras bonitas. E o Dr. King sabia usar as palavras de uma forma incisiva e muito inspiradora (aliás, em nossos estudos aqui tenho me surpreendido continuamente com a forma como os americanos sabem usar uma linguagem suave e quase poética para fins políticos – a própria Declaração de Independência, com seu ‘We hold these truths to be self evident, that all men are created equal...’  soa pra mim quase melódica). O discurso preferido da Sra.Fleming (nope, não é o 'I Have a Dream'!) foi  proferido em Montgomery, Alabama, em 1965 e é também conhecido como o ‘How Long, Not Long’ Speech.

 

"I know you are asking today, "How long will it take?" (Speak, sir) Somebody's asking, "How long will prejudice blind the visions of men?” I come to say to you this afternoon, however difficult the moment, (Yes, sir) however frustrating the hour, it will not be long, (No sir) because "truth crushed to earth will rise again." (Yes, sir) How long? Not long, (Yes, sir) because "no lie can live forever." (Yes, sir) How long? Not long, (All right. How long) because "you shall reap what you sow." (Yes, sir)"
 

Em um dado momento da nossa conversa, Dra. Fleming mencionou como era emocionante estar conversando hoje com a gente sobre uma luta que ela pode vivenciar antes que se tornasse uma parte tão importante da nossa História; sobre os flashbacks que lhe vinham à mente;  sobre os casos de afro americanos que lutaram na justiça pelos seus direitos durante o Movimento (como no caso Sweatt vs. Painter, em que Heman Sweatt batalhou obstinadamente na Justiça para fazer o Mestrado em Direito na University of Texas,  num momento da história americana em que negros e brancos estudando juntos parecia uma ideia impossível) e, especialmente, sobre como ela costumava dizer aos seus alunos da Universidade que ela achava que, nem mesmo se vivesse 120 anos, presenciaria a eleição de um presidente americano negro... Que com certeza isso não aconteceria em sua lifetime. E como foi chocante e incrível para ela, e tantos outros americanos, quando isso de fato aconteceu. 

Uma vez ouvi alguém dizer algo como ‘Não sou um otimista, nem um pessimista – sou um possibilista’. Essa conversa com a Dra., nossos estudos aqui e a viagem em si têm me feito apreciar muito mais a beleza das possibilidades. De como muito pode ser realizado, por vezes num período de tempo menor do que nosso ceticismo natural nos permitira acreditar. E como nossas concepções do que em dado momento é ou não possível podem, e devem, ser continuamente desafiadas – pelo mundo, pelo tempo, e, principalmente, por nós mesmos.  Com a coragem e o mindset necessários, é possível transformar sonhos em possibilidades, possibilidades em mudanças, mudanças em certezas. Talvez demore um pouquinho, mas... not long!

                                                                                                                             

4 comentários:

  1. A visão do limiar dos paradigmas é apenas para quem tem nente aberta para mudanças. Como diria Millor Fernandes, nosso filósofo contemporaneo, " O óbvio é ululante, pois só os iluminados enxergam o óbvio".
    Cabe a quem quer liderar algo, apresentar o òbvio para que todos o vejam.
    Se queremos um mundo melhor, temos a obrigação de transformar utopias em realidades.
    Este novo conceito de convivencia, e não de concorrencia esta nas mãos de pessoas como vcs.Lembrem JFK,
    "Não pergunte o que seu País pode faxer por vc, e sim o que vc pode fazer por seu País"

    Su, um grande beijo com saudades.
    Seu pai, Pedro Petropouleas

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  2. "Se queremos um mundo melhor, temos a obrigação de transformar utopias em realidades" Que bonito, pai! Obrigada por ser um modelo e inspiração pra mim desde que eu era pequena. E por estar acompanhando o blog e comentando sempre!
    Saudades!
    Su.

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  3. Suzana, você e as palavras têm um relacionamento muito bonito! Você as usa muito bem e elas fazem o que você quer - parabéns! Você escreve muito bem e com paixão.

    Gostei muito do post.

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  4. Vera, obrigada! Eu não tinha visto seu comentário antes, mas fiquei muito feliz de lê-lo hoje. Valeu mesmo! Beijos.

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