terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Estado e Liberdade nos States


Bruno Arthur Hochheim

Essa postagem trata de algo que ocorreu numa sala de Direito, numa aula de Direito. Mas como esse e um "blog" para o publico em geral, e nao se deseja que ele adormeca, nao se tratara especificamente dessa area do saber. O foco aqui sera uma das experiencias antropologicas mais interessantes que eu ja tive.
Infelizmente, nao descobri como usar a acentuacao do portugues, nem como carregar imagens com esse tablet. De fato, esse e o segundo texto que eu escrevo, uma vez que eu perdi a primeira versao - e seu backup - anteriormente, enquanto tentava providenciar tdo isso. Nao me arrisco mais por ora, e envio tudo assim mesmo.

Estavamos analisando um livro, e o professor passou a critica-lo. Ele seria muito maniqueista, muito "black or white", uma vez que, basicamente, se baseava na
ideia de que a acao estatal e a liberdade individual encontram-se em posicoes diametralmente opostas; que uma maior acao do Estado implicava, necessariamente, uma diminuicao na liberdade dos cidadaos. O problema, defendeu o professor, e que a coisa nao seria assim tao simples. O Estado tambem tem seu papel a cumprir, sendo ele chave para a liberdade. Tem que ele agir para que se possa ter liberdade.
Ate ai tudo bem, nada de novo para mim. No fim, e esse tipo de raciocionio que fundamenta acoes como atuacao na saude publica e protecao ao consumidor. O interessante foi a reacao dos demais alunos.
Uma atmosfera de choque e perplexidade tomou de assalto o recinto. A incredulidade pairava no ar. Pouco tempo depois, comecaram os alunos a mostrar resistencia as ideias sustentadas pelo professor. E essa resistencia era mais originada pelo estranhamento frente ao novo do que por discordancia ideologica. E como se eles nunca tivessem ouvido falar de algo assim.
Foi nessa hora que caiu a ficha, e que passei a entender muito do que acontece nesse pais Ha aqui uma crenca genuina de que o Estado e essencialmente ruim, devendo ser cuidadosamente vigiado. Necessariamente, quanto maior ele for, menor sera a liberdade do cidadao.
Por isso ha tanta resistencia por aqui a projetos como o de maior controle de armas, ou mesmo healthcare. Entende-se que a expansao do poder estatal que deles decorre e uma diminuicao da liberdade individual, o que nao e toleravel; maior o Estado, menor a liberdade individual. E realmente nessa logica que, muitas vezes, se opera por aqui. Nessa visao, a protecao que o healthcare forneceria nao passaria de um grilhao a sufocar o cidadao. Dai tanta resistencia.
E e justamente devido a esse tipo de raciocinio que muitos cidadaos desse pais passam muitas horas de seu tempo em servicos voluntarios, mas nao toleram que o Estado atue nas mesmas areas. Isso e uma extensao insportavel do aparato estatal, segundo essa essa visao.
Para piorar, as duas iniciativas acima citadas (controle do armamento e healthcare) vem do governo federal. O aparato estatal ja eh visto, por si so, como algo ruim. Mas com mais desconfianca ainda se encara o governo federal. Teme-se muito que ele concentre demasiado poder e esmague os cidadaos e os estados, destruindo-os.
E claro, os EUA sao um pais enorme, apresentando uma grande variedade de pessoas. Nem todas pensam do mesmo jeito, como mostram as eleicoes presidenciais. Mas elas tambem mostram que mais ou menos metade da populacao pensa desse jeito, ou de modo similar. E isso nao e algo a se desconsiderar.
Por isso, quando ouvir aqui criticas em relacao a atuacao do governo, lembre-se: em seu germen deve estar contida a ideia de que a atuacao estatal e inimiga da liberdade. Que o Estado e um gigante que nao pode crescer demais, sob pena de esmigalhar o cidadao.

Um comentário:

  1. You hit the nail on the head, Bruno. A liberdade individual é prezada por todos como um direito e eles não transferem esse direito para o estado. No fundo, no fundo, republicanos e democratas pensam da mesma maneira, mas os democratas dão ao governo o direito de legislar sobre assuntos mais abrangentes, como healthcare, gun control e outros poucos mais. No fundo não é o controle de armas que está em jogo (também aí todos concordam, basicamente), mas o DIREITO individual de comprar/portar armas. É muito interessante a dinâmica.

    Parabéns.

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