sábado, 2 de fevereiro de 2013

Diário da Jornada

Por Waldo Ramalho - Recife/PE


Hoje visitamos uma reserva indígena norte-americana. “Very interesting” diria Dr. Freeberg, nosso coordenador acadêmico, dono de um olhar gélido e uma barba poderosa. Apesar da sinceridade das palavras de nosso professor ser uma questão controversa, acredito que nosso passeio foi uma experiência importante.



     Dr. Freeberg, nosso coordenador acadêmico. É muito amigável e parece o General Lee.


Estou me adiantando. Vou  (re)começar esse relato com a seguinte afirmação: Hoje foi um dia cansado.


 Colega aproveitando a paisagem nevada da Carolina do Norte                             

Essa curiosa imagem retrata bem o estado de todo o grupo. Apesar da bela paisagem da Carolina do Norte e de todas as delícias visuais que o Criador colocou sobre a terra, estas não foram suficientes para evitar o estado próximo do coma em que nos encontrávamos. 

Ao que se deve esse cansaço? Diria que é culpa do lugar-comum “Work hard, Play hard”. Estamos com uma certa coisa na cabeça, que essa oportunidade é curta e precisa ser aproveitada. Não paramos um momento e ocupamos todos os turnos com várias atividades diferentes. Talvez por isso, estou com minha noção de tempo e de temperatura em um estado de bizarria sem precedentes.

Antes, dormir sete horas seria um bom descanso. Hoje me bastam cinco para me considerar um felizardo. Três horas? Bah, é o que tem pra hoje. O mesmo serve para o clima. Cinco graus? Nossa, que calor! Inclusive, esses dias eu estava andando pelo hotel com meu calção e minhas havaianas quando um americano me perguntou se sou da California. Me senti o David Duchovny.


Infelizmente aqui não estava tão "quente"

Voltando a estória. Nesse contexto de sofreguidão, hibernamos o caminho inteiro até a Carolina do Norte (foto acima), onde visitamos a tal reserva. Esperava algo primitivo. O que vi foram lojas, casas e um cassino ao passar por entre as Smokey Mountains. Professor Reed, nossa professora loiríssima de história indígena e membra da Nação Cherokee, nos levou até o centro escolar da região.


Pátio de várias construções escolares, sete "cantos" ao todo: um para cada clã


O centro escolar, um complexo educacional para cerca de 1200 nativos da comunidade. O orçamento provém de parte das rendas dos cassinos (índios e cassinos? viva a América!). O ambiente é de ponta, melhor que qualquer colégio particular do Recife em termos de infraestrutura e preocupação pedagógica. Não vou descrever esses aspectos, mas vejam uma foto do "campinho":


Milena Lumini e Daniel Silva no campo de futebol americano
Essa visita foi interessante se considerarmos nossa experiência brasileira. Muitas vezes pensamos a preservação da cultura indígena em duas opções mutualmente excludentes: ou preservamos a cultura indígena em aldeias artificialmente autóctones (ou seja, vamos clonar o índio Peri) ou os índios que usam roupas e tentam se integrar à sociedade mas mantendo sua cultura, não são índios. Os Cherokee da Carolina do Norte, comunidade que escapou do êxodo cujo roteiro hoje é conhecido como “Trilha das Lágrimas”, conseguiram preservar sua cultura desse último modo, e parecem ter obtidos resultados, no mínimo, dignos de serem comentados.


Crianças do Jardim de Infância desenham seus clãs: Bird, Blue, Paint, Long Hair, Wild Potato, Deer e Wolf.

Ao mesmo tempo em que há disciplinas de linguagem e história Cherokee e as crianças aprendem a cultura tribal e seus clãs, os Cherooke tem um ensino de qualidade e uma preocupação com a educação do seu povo (para a felicidade dos seguidores de Paulo Freire). Se esse é o melhor caminho? Não sei, mas com certeza pareceu muito bacana. Vale a pena considerar essa experiência quando vamos observar a questão do índio no Brasil sem reduzir a preservação da cultura indígena em preservação daquela imagem romântica do índio do mato, caçador e peladão.


Cherokees empresários



E pra comprovar nossa vida cansada e apressada: fiz esse post em trinta minutos. Agora vou dormir, boa noite!

2 comentários:

  1. Espero que tenha descansado, Waldo.... NY é a próxima parada!!!

    É interessante a questão do indígena americano -- eles "descobriram" os cassinos e exploram o jogo com maestria. E como são nações independentes, eles o fazem mesmo em estados cujas leis proibem o jogo. Só nos EUA...

    Parabéns pelo post.

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  2. Adorei o post, Waldo! Bons tempos de SL que já passaram mas continuam com a gente.. Representem aí, cara! Parabéns!! =D

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