Por Waldo Ramalho - Recife/PE
Hoje visitamos uma reserva indígena norte-americana. “Very interesting” diria Dr. Freeberg, nosso coordenador acadêmico, dono de um olhar gélido e uma barba poderosa. Apesar da sinceridade das palavras de nosso professor ser uma questão controversa, acredito que nosso passeio foi uma experiência importante.
Estou me adiantando. Vou (re)começar esse relato com a seguinte afirmação: Hoje foi um dia cansado.
Colega aproveitando a paisagem nevada da Carolina do Norte |
Essa curiosa imagem retrata bem o estado de todo o grupo. Apesar da bela paisagem da Carolina do Norte e de todas as delícias visuais que o Criador colocou sobre a terra, estas não foram suficientes para evitar o estado próximo do coma em que nos encontrávamos.
Ao que se deve esse cansaço? Diria que é culpa do lugar-comum “Work hard, Play hard”. Estamos com uma certa coisa na cabeça, que essa oportunidade é curta e precisa ser aproveitada. Não paramos um momento e ocupamos todos os turnos com várias atividades diferentes. Talvez por isso, estou com minha noção de tempo e de temperatura em um estado de bizarria sem precedentes.
Antes, dormir sete horas seria um bom descanso. Hoje me bastam cinco para me considerar um felizardo. Três horas? Bah, é o que tem pra hoje. O mesmo serve para o clima. Cinco graus? Nossa, que calor! Inclusive, esses dias eu estava andando pelo hotel com meu calção e minhas havaianas quando um americano me perguntou se sou da California. Me senti o David Duchovny.
Infelizmente aqui não estava tão "quente" |
Voltando a estória. Nesse contexto de sofreguidão, hibernamos o caminho inteiro até a Carolina do Norte (foto acima), onde visitamos a tal reserva. Esperava algo primitivo. O que vi foram lojas, casas e um cassino ao passar por entre as Smokey Mountains. Professor Reed, nossa professora loiríssima de história indígena e membra da Nação Cherokee, nos levou até o centro escolar da região.
Pátio de várias construções escolares, sete "cantos" ao todo: um para cada clã |
O centro escolar, um complexo educacional para cerca de 1200 nativos da comunidade. O orçamento provém de parte das rendas dos cassinos (índios e cassinos? viva a América!). O ambiente é de ponta, melhor que qualquer colégio particular do Recife em termos de infraestrutura e preocupação pedagógica. Não vou descrever esses aspectos, mas vejam uma foto do "campinho":
Milena Lumini e Daniel Silva no campo de futebol americano |
Essa visita foi interessante se considerarmos nossa experiência brasileira. Muitas vezes pensamos a preservação da cultura indígena em duas opções mutualmente excludentes: ou preservamos a cultura indígena em aldeias artificialmente autóctones (ou seja, vamos clonar o índio Peri) ou os índios que usam roupas e tentam se integrar à sociedade mas mantendo sua cultura, não são índios. Os Cherokee da Carolina do Norte, comunidade que escapou do êxodo cujo roteiro hoje é conhecido como “Trilha das Lágrimas”, conseguiram preservar sua cultura desse último modo, e parecem ter obtidos resultados, no mínimo, dignos de serem comentados.
Crianças do Jardim de Infância desenham seus clãs: Bird, Blue, Paint, Long Hair, Wild Potato, Deer e Wolf. |
Ao mesmo tempo em que há disciplinas de linguagem e história Cherokee e as crianças aprendem a cultura tribal e seus clãs, os Cherooke tem um ensino de qualidade e uma preocupação com a educação do seu povo (para a felicidade dos seguidores de Paulo Freire). Se esse é o melhor caminho? Não sei, mas com certeza pareceu muito bacana. Vale a pena considerar essa experiência quando vamos observar a questão do índio no Brasil sem reduzir a preservação da cultura indígena em preservação daquela imagem romântica do índio do mato, caçador e peladão.
Cherokees empresários |
E pra comprovar nossa vida cansada e apressada: fiz esse post em trinta minutos. Agora vou dormir, boa noite!
Espero que tenha descansado, Waldo.... NY é a próxima parada!!!
ResponderExcluirÉ interessante a questão do indígena americano -- eles "descobriram" os cassinos e exploram o jogo com maestria. E como são nações independentes, eles o fazem mesmo em estados cujas leis proibem o jogo. Só nos EUA...
Parabéns pelo post.
Adorei o post, Waldo! Bons tempos de SL que já passaram mas continuam com a gente.. Representem aí, cara! Parabéns!! =D
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